Muito se tem apregoado sobre o espírito empreendedor. Ainda ontem na Assembléia da Republica, a Senhora Primeira Ministra defendeu que uma das missões do seu Governo no próximo ano será de continuar com os esforços para incutir o espírito empreendedor nos estudantes deste país. Good Senhora Primeira Ministra.
Mas a minha pergunta é como a Senhora pensa incutir este espírito empreendedor? Talvez haja quem já pense numa disciplina sobre empreendedorismo. Excelente. Em que ano se vai lecionar essa disciplina? Será uma disciplina obrigatória ou opcional? Certamente que nem a Senhora Primeira Ministra sabe ainda, mas uma coisa é certa... O Governo vai fazer qualquer coisa, mas o Governo como sempre vai tentar nem que seja às apalpadelas com sempre.
Ora bem Senhora Primeira Ministra. Primeiro deixe-me dizer que as boas literaturas sobre criatividade dizem que todos nós nascemos com certa doze de potencial criativo que infelizmente para muitos de nós esse potencial vai sendo gradativamente restringido. Infelizmente o ambiente em que vivem muitos Moçambicanos mais contribui para a redução da nossa capacidade criativa do que para o seu desenvolvimento. E existem varios factores que contribuem para o atrofiamento da capacidade criativa dos Moçambicanos. Começando pelo próprio sistema de educação, que mais do que ensinar a pensar ensina-nos a memorizar e terminando no ambiente político, social e econômico que nos rodeia que se torna a cada dia cada vez mais selvagem. Poucos discordarão comigo que em geral o principal objectivo de muitos tem sido encontrar a rota mais fácil de sobrevivência e em curto prazo. Afinal, não há muito para pensar em ideais geniais se estamos todos de barriga vazia.
Ok..ok... uns dirão que temos muitos empreendedores de sucesso neste país. Há sim, se olharmos para quem anda no mundo empresarial veremos que poucos são os empresários a moda antiga, vindos do nada e partindo para o tudo. Poucas historias de empreendedores de sucesso temos para contar, se não de srs. e sras. que de dia para noite apareceram cheios de riqueza como se um pote mágico tivessem achado. O historial desse desenvolvimento repentino muitas das vezes não existe, porque se resume somente numa “boa bolada” de ganho fácil.
Na cerimônia de graduação dos estudantes universitários, pede-se aos pobres recém graduados que não se contentem apenas com o sonho de serem empregados, mas sim ir mais alem e ser empreendedor. Patrão, como diz MC Roger o rapper bajulador. Imagine só, ensina-se alguém a nadar e depois lançado para um terreno sem água esperando que de qualquer forma o fulano vá nadar. A palavra de ordem parece ser “nade como pode, com ou sem água nade”. Pede-se ao recem-formado que por si só encontre recursos, assuma os riscos, lute contra a concorrência, mas quando a coisa não der ninguém esta lá para dá-lo suporte.
Os conhecimentos técnicos adquiridos na universidade ou em qualquer outro processo formação, apesar de serem necessários não são elementos suficientes para que se desenvolva o espírito empreendedor. É necessário que se tenha um ambiente que permita o desenvolvimento desse espírito empreendedor. Será que em Moçambique temos este ambiente? A resposta mais simples é um redondo não. Um individuo recém-formado não pode arriscar no mundo dos negócios tendo em consideração todos os riscos que terá de suportar por conta própria. O jovem recém formado, por vezes para alem da sua mente ainda fresca e cheia de idéias não possui quaisquer outros recursos ou suportes para se aventurar no empreendedorismo. O Governo não tem nenhum incentivo, para alem de palavras lindas e palmadinhas nas costas que estimulem os jovens a enveredar pelo empreendedorismo.